notas de sexta: você anda por aí o dia todo preocupada com o que os outros pensam?
How do you get anything done???
Maio meio que sempre foi um mês meio nhé para mim. Na minha mente, maio é só um pulinho antes de junhoejulho que, por sua vez, meio que são uma coisa só (e cheios de coisas em si). Talvez seja por causa do trabalho, que este ano me obrigou a estar atenta a cada dia do mês e não deixar que nenhum deles passasse despercebido (fuckmylife), ou talvez a percepção do tempo vá mudar daqui pra frente, você sabe, conforme ficamos mais velhos e os dias se enchem de demandas alheias.
Achei que teria mais tempo para enrolar para o primeiro post, que teriam mais dias livres na primeira semana de junho... Mas fato é que eu nem vi ela passar. E se eu deixar, vai a segunda, a terceira e não é o tempo sem fazer a coisa que vai me deixar mais segura para fazer a coisa então, vai capenga mesmo. Aqui minhas notas de maio sexta:
malfeito é melhor que perfeito? pelo menos um deles existe
Me arrependo profundamente de ter deletado minha "antiga" newsletter (discoterapia, que agora virou uma seção com alguns dos textos repostados - os melhorzinhos). Não porque tenha perdido muitos seguidores (tinha tipo uns 14) ou uma narrativa super coerente que estivesse nascendo (talvez?), mas porque desde então - por achar que o nome, os temas escolhidos, as cores ou seja lá o que for, não estivesse bom o suficiente, não consegui publicar mais nada. Gastei mais tempo no canva brincando de fazer uma logo, do que editando ou escrevendo qualquer coisa. Que ridículo e ao mesmo tempo irônico, não? Por que é tão difícil sentar a bunda e digitar algo, ainda que seja algo que já tivesse escrito antes em um caderno? Aliás, é claro que seria muito mais fácil só escrever em um caderno, então por que a gente faz isso? Digo "a gente" porque não penso nem de longe que essa experiência seja única, mas isso não suaviza o golpe né? Fico martelando aqui na cabeça: por que eu quero fazer isso? Escrever uma newsletter semanal. Por que voluntariamente me submeter à exposição, à angústia de 'o que será que vão pensar'? Eu li num artigo vi um tiktok sobre Terapia de Rejeição, e tinha uma menina que deitava na calçada só pra isso, ser rejeitada. Então eu tenho uma palpite de que pra mim, postar mesmo achando que está completamente ridículo, seja precisamente para superar essa sensação escrota, uma espécie de mini terapia de rejeição. Irracionalmente, a gente se trava demais por algo que nem importa (pessoas). E eu não quero me travar com o que realmente importa (outras pessoas), então pretendo começar com pequenos passos, tipo esse email (que não vai ser bem um email porque ainda não tem ninguém para receber), tipo não voltar para editar nem apagar daqui a 24h, depois daqui a 48h, e por aí vai. Se não der certo, minha próxima tentativa pode ser deitar na calçada (o que eu preferia não, porque calçadas são lugares extremamente sujos por aqui).
as coisas estão difíceis mas podem sempre piorar
Quando eu falo que estou a "isso aqui" (🤏) de largar tudo e ir morar na praia, abrir um negócio tipo um carrinho de churrasquinho, ou sei lá, nem eu sei mais se tô brincando ou não. Parte de mim entende, racionalmente, que, dado o ritmo e a direção das coisas, essa é mesmo a melhor alternativa. Talvez até a única alternativa para quem pensa em um futuro, perpetuar a linhagem e coisa e tal. Olha, o planeta não está morrendo, mas claramente a vida como estamos acostumados está. Se você não liga muito pra isso, suponho que ainda temos tempo de realizar mais uma geração de sonhos corporativos (com muita sorte e remédios para ansiedade). Isso é, aquilo que fomos criados para almejar: tire as melhores notas, faça a melhor faculdade, se estribuche num estágio, se humilhe num emprego, e quando o chefe do seu chefe se aposentar e a esteira andar, você também vai poder ser como nós e explorar alguém. É muito ruim admitir que eu, de verdade, não sinto que tenha conseguido escolher ainda? O brilho das coisas ainda me atrai demais para eu virar as costas assim. De qualquer forma, melhor decidir logo, porque seja lá o que vem por aí,, não vai ficar mais fácil: A McKinsey e o Fórum Econômico Mundial estimam que a IA pode substituir até 50% dos empregos de nível básico de "colarinho branco" até 2035 (pense suporte ao cliente, analistas juniors - e suspeito até plenos, em alguns casos, etc).
falando em IA (você teve uma conversa sequer nos ultimos meses que não envolvesse ela?), acho que o chatgpt pode estar me deixando mais burra
Com certeza tava baixando minha autoestima. A questão é que eu nunca tive problemas para aderir a novas tecnologias (talvez até devesse, pensando bem), e com o Chat GPT foi assim também: facinho facinho, e quando vi tava até pagando uma assinatura — tamanho era o “adianto de vida”. Começou com traduções, depois pesquisas que antes eu fazia no gugou, revisões de textos, organização de outros textos em bullet points… quando eu vi, já estava digitando “escreva um email para…” e nem pensava duas vezes se tava certo ou errado (o ato em si, não o texto do e-mail, apesar de já ter sim enviado coisas erradas que a IA escreveu).
A gente quer mesmo que a IA trabalhe mais pra gente poder trabalhar menos, ou assim eu ouvi dizer e concordei. Mas eu não estou/estava trabalhando menos e comecei a me pegar sem saber o que dizer em situações da vida real que não tinha como consultar o chat. Eu ainda uso a conta da empresa, para traduções, resumos e eventualmente até um e-mail ou outro. Mas cancelei a assinatura da minha conta pessoal e prometo formular meus próprios textos autorais (ainda que só um email) daqui pra frente, sob o risco de soar meio burrinha (ironicamente) mas menos mecânica também. Acho que logo logo "meio burrinha" vai ser sinônimo de mais inteligente. Já tenho visto posts e mais posts (no linkedin, aqui no substack, etc) sobre como reconhecer textos escritos por IA: emojis, organização em tópicos, travessões (tão úteis, me recuso a abandonar)... Acho que o próximo passo é reconhecer nosso limite enquanto espécie e que a IA ultrapassa esse limite, mas não necessariamente isso é bom. Vai na contramão de tudo que temos como verdade (mais é melhor e melhor é mais), então pode ser que leve mais um tempinho e nem todos pensem assim afinal. Quem não estiver muito preocupado com sua capacidade cognitiva certamente vai te incentivar a usar cada vez mais, te ensinar os melhores prompts e como disfarçar para que seu texto pareça mais humano e menos IA... quem tiver sorte e puder não se dobrar, aconselho que o faça.
paulistas x cariocas x paulistas (de novo) x capixabas
Veja bem, se você não levar pro pessoal, não vai ser. Mas não dá para negar que o egocentrismo do paulistano é inversamente proporcional ao tamanho do apartamento e, já que mais de 70% dos imóveis construídos na cidade tem ATÉ (isso mesmo, "até", não "em torno de", nem "em média") 45m²... bom, tire suas próprias conclusões. É muito curioso, vindo de outro estado, observar como a) ainda trabalho com quase 100% de colegas paulistas e b)quando descobrem que você não é de são paulo, o maior interesse é em saber como as pessoas de foram vêem SP (extraído de um diálogo da vida real: "e aí Ana, conta pra gente, o que falam dos homens paulistas?" resposta: we don't). Eu sempre disse, principalmente para amigas que acabaram de passar por um término, que basta sair da bolha para perceber como ela é pequena e, tendo ido de SP pro Rio, voltado pra SP, e saído de novo pro Espírito Santo, posso afirmar: nossa. Pra uma cidade que se vende como a mais cosmopolita do Brasil, talvez a lição de casa não seja só reconhecer a própria bolha, mas reconhecer que existem outras — e que elas não estão ali só pra entretenimento do paulista. É meio delírio capitalista, meio experiência colonial (do POV da metrópole). Tem algo na cidade que transforma tudo em commodity: o bar paraense (cujo dono é paulista), o samba "raís" no rooftop de concreto, a tapioca de 40 reais no brunch em Pinheiros, o boné do MST (clássico). São Paulo não ama, São Paulo consome. Às vezes, a gente no meio disso também vira item de temporada. Tem uma coisa meio trágica, meio atraente, em se deixar engolir pela cidade. Você sente que está no centro de alguma coisa importante — mesmo que não saiba exatamente o quê. E é fácil confundir esse ruído com sentido. Falo isso com amor. Amor enlatado, provavelmente, mas amor.
síndrome do impostor é uma prova de narcisismo (get over yourself)
Tenho pensado que a tal síndrome do impostor não é sinal de insegurança, mas de egocentrismo mal disfarçado. O culto da dúvida elevada à forma mais sofisticada de autoadoração: “Será que sou boa o bastante?” (como se o mundo estivesse esperando pela sua performance impecável). Como se você fosse, o tempo todo, o evento principal. Sim, é cansativo achar que a gente nunca é suficiente. Mas também é egocêntrico achar que todo mundo está reparando. Existe algo quase infantil na crença de que estamos enganando as pessoas, como se estivéssemos em uma peça, e os outros fossem plateia (main character syndrome). Como se o mundo estivesse prestes a descobrir que a gente é uma fraude, quando na real... ninguém está tão interessado assim. É duro aceitar, mas libertador: talvez você não seja tão genial quanto acha que deveria ser. E tudo bem. A maioria das pessoas também não é. E elas continuam sendo amadas, promovidas, elogiadas, confundidas com alguém que sabe o que está fazendo. Continuam vivendo. A tal “síndrome” nunca me pareceu uma condição. É mais um sintoma. De uma geração que aprendeu a se olhar de fora. Que cresceu vendo vídeos sobre como parecer confiante, como escrever o e-mail perfeito, como se apresentar em reuniões, como se fosse possível ensaiar a vida. A ironia: quanto mais tentamos parecer naturais, mais nos sentimos fakes.
manchild = she did it AGAIN
Sabrina Carpenter lançou manchild, quebrou recordes no Spotify e, com toda certeza, vai estar na minha retrospectiva do fim do ano. Não por acaso: entrou em loop aqui como só entram aquelas músicas que misturam batida chiclete com diagnóstico emocional. E fazer o quê, se é boa e ainda tem letra que dá vontade de tatuar na testa (do ex!)? Aquele tipo de composição que faz você pausar no meio do refrão pra pensar: “finalmente alguém colocou isso em palavras”. Porque toda mulher já teve que bancar a terapeuta de homem adulto. E pior: fazendo isso com voz doce, unha feita e sorriso social. Sabrina só teve a coragem (e bom humor) de cantar o que a gente aprendeu a engolir com classe. Em tempo: não faltam think pieces sobre a Sabrina Carpenter. Sobre como ela é sensual demais. Sobre como é um “risco” para meninas mais novas. Sobre como sua voz aguda e estética açucarada seriam uma estratégia para atrair o olhar masculino, como se ela fosse um sonho molhado de um homem com tendências questionáveis. E olha — até entendo o incômodo, mas também me pergunto: por que o desconforto com uma mulher performando o feminino do jeito que ela quer ainda cai sempre na conta dela, e não de quem sexualiza tudo o que vê? Parafraseando uma autora que li por aqui mesmo no Substack: mil vezes minhas filhas ouvirem Sabrina Carpenter do que crescerem achando que o auge da feminilidade é ser desejada e aceita (escolhida) por um homem.
Até semana que vem!
Duda